Thiago Heine, Psicólogo
Batendo à nossa porta
Quando uma enfermidade surge em nossas vidas, muitas perguntas surgem e invadem a nossa mente. Por que eu? Tinha que ser agora? Que médico vou procurar? Será que é grave? O que faço?
Obter as respostas para estas perguntas faz parte do processo de superação das enfermidades. Com estas respostas bem claras, podemos alcançar a tranquilidade e a motivação para cuidarmos da saúde com a atenção necessária, seguindo as orientações dos médicos e profissionais da saúde. Aliás, esta é a primeira recomendação que se pode dar a quem percebe que há algo de diferente acontecendo: procure um médico, um profissional da saúde ou um Pronto Socorro.
Apesar dos constantes avanços científicos, de um número sem fim de medicamentos novos, dos modernos estudos realizados no campo da medicina e outros tantos cuidados que esta área tem recebido, não é fácil enfrentar uma doença. Lamentavelmente, nem todos, de fato, se preocupam com quem está enfermo, tratando-o como uma pessoa, como um ser humano. A medicina integral, muitas vezes, é só uma teoria que não se coloca em prática devido à complexidade de cada ser humano.
Especialistas afirmam que 90% das enfermidades têm a ver com fenômenos sociais, econômicos, políticos, psicológicos e espirituais, que acabam afetando a saúde das pessoas.
Em 1950, a expectativa de vida no Brasil era de apenas 48 anos. Em 2018 essa expectativa já aumentou para 76 anos.
Por que ficamos doentes?
Quando falamos nas causas que nos levam a adoecer, surgem hipóteses que englobam as mudanças climáticas, passam pelo surgimento de novos vírus ou bactérias, incluem problemas como estresse, insônia, fumo, álcool e má alimentação, e chegam até os problemas mentais.
Na verdade, nunca podemos pensar em uma única causa, mas em várias situações que acabam ocorrendo ao mesmo tempo em uma só pessoa. Existem causas que precisam ocorrer para que exista a doença, e existem causas que envolvem uma predisposição do organismo para contrair esta doença.
Estou doente ou me sinto doente?
Uma coisa é estar doente. Outra, bem diferente, é sentir-se doente. Há pessoas que se sentem doentes e, ao primeiro sinal diferente em seu corpo, já corre para o médico. Outras, no entanto, sentem sintomas, dores e sensações estranhas mas não dedicam um tempo para marcar uma consulta e ver o que está acontecendo.
Isso depende da personalidade de cada um. Tem gente que vai trabalhar com febre. Outros, ao menor sinal de mudança da temperatura corporal, já buscam um Pronto-Socorro para ver o que está acontecendo. Nos dois casos é importante estarmos atentos ao que está se passando em nossas vidas. Às vezes, uma enfermidade serve para expressar algo que está acontecendo conosco, mas que não sabemos como expressar para os que estão ao nosso redor.
Estamos aqui para te ouvir!
Definição de “Saúde”
A OMS – Organização Mundial da Saúde, definiu a Saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. Por isso, diante de qualquer mudança ou sintoma em nosso corpo ou nossa vida, é preciso parar e buscar uma avaliação do que estamos sentindo, para podermos entender o que está, de fato, acontecendo conosco.
A medicina busca tratar as causas e os sintomas de uma doença. Muitas vezes, nós mesmos nos preocupamos somente com a parte física de uma enfermidade. Mas somos seres com sentimentos e emoções, seres que precisam da companhia de outros semelhantes.
Por isso é necessário cuidarmos muito da parte mental, porque se estivermos mentalmente saudáveis, teremos melhores condições de enfrentar as doenças físicas que nos afetam. É importante que, diante de qualquer anomalia em nossa saúde, possamos ir ao médico para cuidar dos sintomas. Mas é cada vez mais evidente que precisamos, também, cuidar de nossa vida integralmente, observando nossa saúde mental e espiritual.
O que fazer quando o diagnóstico assusta?
Quando recebemos um diagnóstico, os nossos próximos passos dependem do nosso estado de ânimo, da nossa motivação e das circunstâncias em que vivemos. A primeira coisa, fundamental e de máxima importância, é seguir as orientações médicas. Somente eles podem avaliar e recomendar um tratamento correto para cada situação.
Seja no caso de uma doença simples, ou algo mais raro e perigoso, é preciso sempre ser realista, mas ter esperança é fundamental. Não é bom ficar fazendo especulações ou comparando com a situação vivida por outras pessoas.
Ao mesmo tempo, o costume atual de buscar informações sobre uma doença específica na internet, pode nos levar ao desespero, ou à falsas esperanças. Há muita desinformação circulando pelas redes, além de muita gente mal intencionada que procura obter vantagens oferecendo tratamentos milagrosos sem nenhuma eficácia. Não há problemas em buscar informações, mas não faça nada sem consultar o profissional que está cuidando da sua saúde.
Cada situação, cada paciente, cada pessoa é única, e por isso é necessário que seja tratada como tal. Também o modo de enfrentar uma doença é diferente de uma pessoa para a outra. Alguns veem um copo meio cheio, outras veem um copo meio vazio. Alguns se entregam para a sua doença, e outros lutam e enfrentam a realidade com esperança. Sabemos que não podemos mudar o que já aconteceu, mas podemos viver o presente e mudar o que vai acontecer no futuro.
Atitudes que importam
Sentir-se acompanhado
Todos podemos nos deprimir diante de uma enfermidade. Às vezes nos sentimos tão vulneráveis que acabamos nos tornando seres de fato frágeis e indefesos. Até a pessoa mais forte se torna fraca, se prostra, se desfaz diante de uma doença, por mais simples que ela seja. O sofrimento nos abate.
Quando estamos doentes podemos nos sentir sozinhos, e parece que a solidão torna a nossa doença algo ainda pior, mais dolorosa. Mas, é muito diferente “sentir-se” sozinho e estar, de fato, sozinho. Podemos estar cercados de pessoas, mas nos sentimos sós. Não é qualquer companhia ao nosso lado que vai tirar de nós este sentimento, mas uma boa companhia, alguém que realmente se importa, pode acabar com a nossa solidão nessas horas.
É muito bom sentir-se acompanhado, seja por um familiar ou por alguém em quem confiamos. Toda a dor física e emocional pode ser suportada mais facilmente quando compartilhamos com alguém. A presença de um amigo, de uma pessoa querida pode ser o apoio que precisamos nesta hora tão difícil.
Sentir-se ajudado
Quando estamos doentes, é muito comum precisarmos de ajuda. No entanto, por questões de orgulho ou vergonha, muita gente quer passar esse momento sem ninguém para apoiar e dar uma força. É aquela sensação de “nunca dependi de ninguém”, mas agora, quando precisam de alguém que cuide, que dê os medicamentos, que ajude na alimentação, na troca de roupa, no banho ou na higiene, sentem-se totalmente envergonhados.
Estamos acostumados a sermos independentes, a fazer o que queremos, a conseguir as coisas por nossas próprias forças, e vivemos em uma sociedade cada vez mais individualista. Então, ter que depender de outras pessoas pode ser tão difícil que chega a atrapalhar na recuperação. Quando aprendemos a confiar e a depender daqueles que querem, de fato, nos ajudar, o processo de recuperação pode ser mais fácil e muito menos cansativo.
Confiar
É indispensável poder depositar a nossa confiança naquelas pessoas que estão cuidando da nossa saúde e da nossa recuperação, e das quais dependemos. Ou seja, confiar no médico, nos enfermeiros, nos técnicos, nos familiares e nos amigos que nos estão apoiando.
Um leque de enfermidades
Todos nós podemos contrair diversos tipos de enfermidades, e a cada dia surgem outras variações que podem ser mais graves do que as que já conhecemos, até que se encontre uma vacina ou um medicamento que seja eficaz para tratar delas. Viver com medo não é a solução para essa realidade. É preciso tomar os cuidados necessários e adequados, utilizando tudo o que está a o nosso alcance para reforçar nossas defesas e barreiras físicas.
É preciso levar em consideração que até as pessoas mais fortes e saudáveis podem adoecer a qualquer momento. Ninguém está totalmente isento de ficar doente. E algumas doenças podem ser mais fortes e agressivas que outras, difíceis de vencer. Por isso, sempre é importante buscar um médico rapidamente, para que se possa identificar e tratar o quanto antes. Dessa forma teremos mais chances de combater o mal que está nos afligindo.
Por que Deus permite que fiquemos doentes?
É muito provável que você já tenha feito essa pergunta algumas vezes. Sem dúvida, como seres humanos, muitas vezes não conseguimos entender os pensamentos e a forma de agir de Deus. Mas, podemos ter certeza de que Deus não nos controla como se fôssemos marionetes ou robôs. Ele nos deu liberdade para escolhermos como tratar o nosso corpo com nossa alimentação e hábitos. Muitas vezes erramos nessas escolhas e precisamos enfrentar as consequências que nos levam ao sofrimento e, nesse caso específico, o sofrimento pelas enfermidades. E mesmo que sejamos muito cuidadosos em nosso cuidado com o corpo, ainda assim podemos adoecer. Afinal, ainda enfrentaremos doenças, sofrimento e morte porque essa é a atual condição humana.
Precisamos saber que Deus permite que isso aconteça, mas podemos ter a certeza de que ele nunca nos abandona. Ao contrário, ele caminha ao nosso lado por todos os momentos, dando-nos forças e a esperança que precisamos para enfrentar cada situação difícil em nossas vidas.
Quando temos uma filha ou filho doentes
Sem nenhuma dúvida, esta é uma situação muito difícil que os pais precisam enfrentar. É fundamental a família estar unida e poder apoiar-se mutuamente. Isso dará segurança e força para a criança que está doente.
Nestes momentos surgem as perguntas normais e, de certa forma, lógicas para todos nós: Por que alguém tão pequeno precisa sofrer? Por que alguém tão jovem tem que passar por isso? É nessa hora que devemos mudar a pergunta. Devemos trocar o “por que?” pelo “para que?”. Ou seja, para que estamos passando por isso?
E algumas respostas podem ser: Para darmos mais valor à vida, ao pouco ou muito que temos, a todos os que nos rodeiam e apoiam. Para que vejamos que, apesar das adversidades, existe alguém que nos dá forças e motivos para seguir adiante. Para que prestemos mais atenção nos pequenos detalhes únicos que nos enchem de felicidade.
Com paciência, com amor, dedicação e trabalho carinhoso, podemos extrair algum aprendizado desta situação que envolve uma filha ou um filho doente, ainda que tudo isto esteja ofuscado pela tristeza que nos abate.
É muito importante sermos sinceros e honestos, conosco e com quem está doente. Acima de tudo, amá-lo como um filho precisa, merece e deve ser amado. E não podemos deixar de lembrar que os filhos são um presente de Deus, por isso temos que aproveitar cada dia, cada minuto que tivermos com eles.
Quando temos uma pessoa doente na família
Conviver com um enfermo não é tarefa das mais fáceis. Dependendo da doença e da intensidade com que ela afetou a pessoa, todos os que convivem juntos acabam por sentir mudanças em seu estado físico, psíquico e espiritual.
Pessoas que convivem com alguém doente em casa podem sentir dores musculares, por exemplo, por causa da necessidade de ajudar o enfermo a movimentar-se constantemente. Problemas psicológicos, como depressão, cansaço, abatimento, ansiedade e o isolamento por dedicar-se somente ao enfermo, podem surgir também. Quem cuida de um enfermo pode ter seu equilíbrio emocional afetado porque acaba “se esquecendo” de cuidar de si próprio.
É preciso sempre avaliar a situação em que se está vivendo e buscar o equilíbrio entre a atenção que o enfermo exige e os cuidados da própria vida. Se isso não for feito adequadamente, é possível que, com o tempo, não seja só uma pessoa que está doente, mas duas, e tudo ficará ainda mais difícil.
Estamos aqui para te ouvir!
E O QUE MAIS?
Por mais que sejamos cuidadosos com a nossa saúde, as enfermidades surgem e podem ser graves, chegando ao ponto de ameaçar a nossa vida. Algumas delas podem ser decorrentes de algum desajuste em nossa forma de viver. Muitas vezes vivemos sem parar para cuidarmos de nós mesmos. Mas, nunca é tarde para mudar isso.
Quando estamos doentes, percebemos como somos fracos, e assumir essa fraqueza é um ato de coragem e força interior. Muitas vezes, o processo de cura de uma doença envolve aceitar e adaptar-se ao que ela trouxe de diferente às nossas vidas. Toda doença traz consigo temores, angústias, dores, dependência e confiança em médicos, enfermeiros e familiares.
Aceitar as enfermidades significa, também, reconhecer que Deus é o criador do universo, doador da vida, e o único que tem poder sobre ela. Por isso é sempre sábio confiar em Deus e na sua vontade.
Ninguém gosta de enfrentar uma enfermidade, mas quando aceitamos e aprendemos com ela, até esta situação tão dolorosa pode trazer aprendizado e benefícios para nossa vida.