Por: Cristine Falkenstein – de São Paulo, Brasil.
Meu nome é Cristine e vou contar um pouquinho da minha história.
Aos 21 anos fui diagnosticada com um sarcoma (tipo de tumor raro que pode envolver, a pele, ossos, órgãos internos e tecidos moles, como músculos, tendões e gordura, por exemplo). Fiz várias cirurgias e também radioterapia por 2 anos, e alguns meses depois de terminar o tratamento, me casei.
Cinco meses depois tive um novo tumor no mesmo local e comecei a tomar um medicamento para combater esse tumor, quando descobri que estava grávida. Foi uma gravidez complicada, pois conforme a bula do remédio, eu não poderia engravidar por ter sérios riscos para a criança. Graças a Deus meu filho nasceu sem nenhum problema. Assim que ele nasceu e me recuperei, comecei os exames pré-operatórios para retirar esse tumor e fiz a cirurgia um mês depois do parto.
Foi um período muito difícil, pois eu tinha muito medo de não me recuperar e não poder criar meu filho. Mais uma vez, tudo deu certo e a cirurgia, que foi bem ampla, retirou todo o tumor e não tive mais problemas. Tive a segunda gravidez que foi supertranquila. Todos os anos eu fazia vários exames e tinha acompanhamento médico, e tudo correu bem. Mas, 19 anos depois da última cirurgia, aos 44 anos, numa mamografia de rotina, apareceram várias microcalcificações na mama e estavam se agrupando.
Comecei um tratamento com um mastologista e fiz uma biópsia, e o diagnóstico foi um Carcinoma in Situ na mama esquerda. Como tinha muitas microcalcificações na mama toda, foi indicada uma mastectomia radical com reconstrução imediata, que fiz no mês seguinte.
Não é fácil sofrer essa mutilação. Algumas pessoas tentam te confortar dizendo: “ainda bem que você já está casada, que já teve filhos e amamentou” e se esquecem que você está tirando uma parte do seu corpo, e, no caso da mulher, uma parte bem importante. Mas, depois de pensar muito, chorar muito, lembrei que eu não era só uma mama, e que eu era bem mais do que isso. Novamente foram muitas cirurgias para deixar a mama reconstruída o melhor possível.
Nesse tempo, tive muito suporte do meu marido, dos meus pais, da minha família, dos amigos, do meu pastor (Fernando Huf) e de vários membros da igreja. Foi sugerida uma adenomastectomia (esvaziamento da mama) da mama direita e acabei fazendo também, pois já estava com várias microcalcificações também.
Nunca me senti abandonada ou revoltada com Deus, muito pelo contrário, pois Deus colocou médicos maravilhosos para cuidar de mim e me deu a chance de tentar ser uma pessoa melhor. Quando tudo começou, eu achava que não tinha muito tempo de vida e pedi a Deus que queria casar, ter filhos e ele me concedeu isso. Quando apareceu o câncer de mama, também pedi para viver mais um tempinho e aqui estou!
Hoje passo por oncogenética, pois com os dois tipos de câncer que tive, os médicos desconfiam que tenho uma síndrome chamada Li-Fraumeni e que posso ter mais tipos de câncer, então, faço exames periódicos para detectar qualquer coisa o mais cedo possível.
Me acho uma pessoa muito abençoada por tudo que já aconteceu comigo. Sou voluntária de um grupo de mastectomizadas de Santo André-SP, chamado Viva Melhor, que dá assistência a pessoas que estão passando por esse processo, oferecendo um ombro amigo, doação de próteses, terapia em grupo e outras atividades de voluntários (fisioterapia, maquiagem, artesanato, etc), tudo isso mostrando que, sim, há vida depois de um diagnostico de câncer.