A adolescência é uma etapa de desafios e buscas para quem a vivencia. No entanto, também pode ser desafiadora para mães, pais e cuidadores. O acompanhamento deles é fundamental para o desenvolvimento dos adolescentes, mas os adultos precisam entender claramente que este acompanhamento é diferente daquele oferecido na infância.
Vamos compartilhar algumas reflexões para ajudar a compreender as experiências vividas pelos adolescentes, desenvolver empatia por eles e, ao mesmo tempo, oferecer ferramentas para saber o que esperar dessa etapa. Além disso, essas reflexões servirão de orientação para lidar com diferentes situações.
Este texto é uma compilação e adaptação dos conteúdos sobre adolescência disponíveis no site do UNICEF Uruguai:
https://www.unicef.org/uruguay/adolescentes
51,3% dos adolescentes brasileiros estão insatisfeitos com o próprio corpo
63,2% dos adolescentes brasileiros já tiveram experiência com bebidas alcóolicas
Percepção dos adultos sobre a adolescência
“Os adultos frequentemente têm uma visão negativa da adolescência, e isso se agrava ainda mais para aqueles que convivem de perto com adolescentes.”
Durante a adolescência, ocorrem mudanças físicas, psicológicas e sociais. Sem dúvida, essa é uma etapa repleta de desafios, pois é quando os adolescentes começam a assumir novas responsabilidades e a buscar uma identidade própria. Apesar das dificuldades, a adolescência também é um período cheio de oportunidades para o desenvolvimento de novas habilidades e aprendizagens.
O apoio e o acompanhamento dos adultos são indispensáveis. “Os adolescentes precisam do compromisso dos adultos para ajudá-los a superar os perigos e vulnerabilidades dessa fase.” Adotar uma abordagem empática e atenta pode fazer toda a diferença para apoiar os adolescentes durante esse momento único e transformador em suas vidas.
O que é a adolescência?
“O período da adolescência é um tempo de mudança, de transformação, um tempo cheio de vida, de coisas que não se sabem e não se compreendem. É o tempo da alegria. Mas também é o tempo da fragilidade.”
A adolescência é o período de transição entre a infância e a idade adulta. Ela começa com as mudanças físicas da puberdade e continua como um processo de desenvolvimento psicossocial. Ou seja, a puberdade não é a adolescência; é apenas a fase que abrange as mudanças físicas que marcam o fim da infância.
Durante a adolescência, inicia-se uma busca por identidade. Os adolescentes começam a construir a forma como se enxergam e como desejam ser vistos pelos outros.
Os riscos na adolescência
“Não é incomum que um adolescente se envolva em situações nas quais não consegue medir os riscos. Nesse contexto, a presença de um adulto supervisionando torna-se fundamental e decisiva.”
Dizemos que os adolescentes são “um tiro no escuro”. Mas, sem quebrar algumas regras, como eles deixariam de ser crianças?
Na adolescência, há uma forte tendência a correr riscos. Com adultos por perto, capazes de avaliar o grau desses riscos, essa busca por novas experiências se torna uma parte importante do crescimento e da transição para a vida adulta.
Os adolescentes e os limites
“É importante que os pais, ao acompanharem seus filhos nesse processo de autonomia, estabeleçam limites que são necessários para o crescimento. Porque os limites precisam existir.”
Os adolescentes precisam que sejamos um exemplo próximo, de quem possam obter informações e apoio para interpretar o mundo e decidir como agir.
As regras e os limites são fundamentais em qualquer grupo de interação humana para garantir uma convivência saudável. Na família, isso se torna ainda mais importante, pois ela é o núcleo social mais relevante. É essencial que esses limites sejam claros e considerem as necessidades de todos os envolvidos.
Explicar as razões por trás dos limites e regras estabelecidos ajuda os membros da família a compreenderem e se engajarem. Inclusive, todos podem participar no aperfeiçoamento desses parâmetros.
O universo das redes sociais e da internet
“Para um adolescente, receber um like, um ‘curtir’, ser convidado para um grupo ou incluído em algo traz uma sensação de bem-estar, de maior segurança. Isso é o que todo adolescente precisa para crescer… e, hoje em dia, ele encontra isso na rede.”
Esse universo, que ainda é pouco conhecido pelos pais e adultos, para os adolescentes é a fonte de todo tipo de informação – e eles experimentam isso desde que nasceram. Por isso, o acompanhamento e a supervisão no uso desses meios são essenciais, já que eles se tornaram indispensáveis na comunicação atual.
As redes sociais e os meios digitais são mais uma ferramenta para os adolescentes se sentirem conectados com seus pares. A necessidade de pertencimento, de socializar e de serem aprovados se reflete tanto no uso dos dispositivos quanto fora deles. Por isso, os adolescentes não deixam passar muito tempo antes de mergulharem no mundo virtual, pois não querem correr o risco de perder algo importante.
Ignorar as tecnologias e sua importância seria um erro. Para o bem ou para o mal, essa é uma nova forma de se relacionar. É melhor preparar o adolescente para sua segurança, conscientizando-o para que ele mesmo estabeleça limites. Isso inclui não apenas o tempo de uso das ferramentas digitais, mas também o cuidado no gerenciamento de informações pessoais.
Temos um conteúdo sobre a importância das telas na vida das crianças aqui.
Conhecer um pouco do neurodesenvolvimento
“Assim como a primeira infância é um período crítico, a adolescência também é uma etapa crucial do neurodesenvolvimento.”
Para que o cérebro do adolescente se desenvolva de forma saudável, ele precisa de acolhimento, modelos claros, figuras de referência e companhia. É importante lembrar que, durante esse período, o cérebro está particularmente vulnerável. Os adolescentes têm um potencial incrível, desde que esse potencial não seja prejudicado por críticas constantes ou comportamentos destrutivos em relação a eles.
O cérebro adolescente em desenvolvimento tende a buscar atividades que proporcionem prazer e experimentação de novas sensações, muitas vezes guiado pela impulsividade característica da idade. O controle dos impulsos, o julgamento, a capacidade de planejamento e a tomada de decisões só se completam quando o lóbulo pré-frontal atinge a maturidade. Quando isso acontece? No final da adolescência. Até lá, os adolescentes precisam da orientação e do acolhimento dos adultos que são suas referências.
Compreender o funcionamento do cérebro adolescente nos ajuda a entender melhor essas mudanças radicais, a evitar estigmatizar comportamentos típicos e esperados e a confirmar que o adolescente necessita de nosso acompanhamento, orientação, supervisão e compreensão.
Embora os adolescentes possam parecer fisicamente desenvolvidos, isso não deve nos levar a deixar de supervisioná-los. É justamente nesse momento que eles mais precisam de nossa presença e orientação constantes.
O maior desafio que os adultos que convivem com adolescentes enfrentam é aprender a colocar-se no lugar deles..
Intimidade
“Os adolescentes precisam de um refúgio. Precisam de um lugar para se esconder, um espaço onde possam viver suas experiências consigo mesmos e desenvolver esse senso de intimidade.”
Frequentemente dizemos que eles “não nos contam nada”, mas o mais importante é que eles saibam que podem contar conosco quando precisarem.
Na adolescência, é fundamental que os adultos da família estejam presentes em um ambiente de confiança e diálogo, que respeite a intimidade do adolescente e, ao mesmo tempo, mostre-se disponível.
A importância dos amigos
“É esperado, necessário e saudável que o adolescente, aos poucos, comece a se distanciar do mundo dos pais para se aproximar do mundo dos amigos.”
Essa é, sem dúvida, uma das principais dificuldades enfrentadas pelos adultos durante essa fase. Para muitos pais, é extremamente desafiador soltar as rédeas, dar esse espaço ao filho com certa liberdade e acompanhá-lo sem sufocar.
Por quê? Primeiro, porque nenhum pai ou mãe quer ver seu filho sofrer. Parte de ter liberdade significa começar a tomar decisões sozinho, cometer erros e enfrentar as consequências. Às vezes, os adultos acreditam que a melhor forma de ajudar é evitar que seus filhos se frustrem, protegendo-os de situações difíceis. Fazemos isso com boa intenção, mas acabamos caindo na armadilha da superproteção.
Por outro lado, muitos adultos acreditam que apoiar seus filhos significa isolá-los das complicações naturais do crescimento, evitando que assumam responsabilidades típicas do mundo adulto, numa tentativa inconsciente de mantê-los como crianças. Durante a adolescência, essa postura pode ser muito prejudicial, pois cria “crianças gigantes”: jovens dependentes, com responsabilidades de adultos, mas que são tratados como crianças.
O equilíbrio está em dar liberdade suficiente para que os adolescentes aprendam com seus erros, ao mesmo tempo em que recebem apoio e orientação para lidar com os desafios do crescimento.
Você encontra mais sobre este assunto aqui neste link (Conteúdo em espanhol).
Queremos te ouvir e te ajudar!
Temos pessoas capacitadas esperando para te atender.
Você poderá trocar mensagens com nossos voluntários.
Para concluir
Nesta fase, é comum que a imagem idealizada de pai ou mãe vá se desfazendo progressivamente, dando lugar a uma imagem mais realista. Durante a adolescência, o filho deixa de se relacionar com os pais no papel de “filho-criança” que pede e demanda, para iniciar uma nova relação no papel de “filho-adulto”. Nesse novo vínculo, o adolescente reconhece e compreende um pai ou mãe não idealizado, com erros e imperfeições totalmente humanos. Esse processo só acontece se o adolescente conseguir se distanciar emocionalmente dos pais nessa etapa.
Os pais deixam de ser ídolos e passam a fazer parte do círculo de iguais. Sem interferir diretamente nas escolhas de amizades dos adolescentes, é possível conhecer com quem eles convivem. Abrir as portas da casa para os amigos dos filhos é uma forma de oferecer um espaço seguro onde sabemos que eles estão e podem passar um tempo juntos. Permitir que os amigos e a vida social do adolescente entrem no nosso mundo pode nos aproximar deles.
É esperado que os adolescentes se rebelem, queiram seguir caminhos diferentes e, muitas vezes, expressem que pai ou mãe já não são o centro de suas vidas ou que não precisam mais deles. Isso pode ser doloroso, mas é uma fase transitória e essencial para que eles possam criar sua própria trajetória. Quando esse distanciamento não ocorre, as consequências podem ser mais prejudiciais para o desenvolvimento do adolescente. Filhos que não conseguem confrontar ou contradizer seus pais podem ter mais dificuldades em se separar emocionalmente deles. Sem essa separação, continuarão no papel de “filhos-crianças”, presos a uma relação que não os ajudará a amadurecer ou a construir sua autonomia.
Pais que se veem como amigos ou cúmplices de seus filhos adolescentes reforçam essa dinâmica, impedindo que os filhos se sintam livres para contradizê-los. Nessa situação, o adolescente pode ganhar um companheiro, mas perderá um pai ou mãe, o que não é saudável.
Embora não existam fórmulas mágicas, é essencial entender a dinâmica única de cada filho ou filha. Muitas vezes, perguntar menos e observar mais pode ser mais eficaz. É comum que o adolescente dê a entender que o adulto já não é tão importante ou necessário, mas é essencial que ele saiba que, se precisar, pode contar com o apoio e a presença do adulto. Por isso, pais e responsáveis devem se mostrar disponíveis, ouvir, acolher, inspirar confiança e continuar sendo referências para o crescimento e desenvolvimento dos filhos.
Até a adolescência, as crianças crescem em ambientes controlados e direcionados por adultos. A partir desse ponto, torna-se fundamental dar a elas espaços de participação, escutá-las e evitar falar por elas. Estamos realmente ouvindo? Quantas vezes perguntamos o que elas querem, pensam ou sentem? E, o mais importante, quantas dessas vezes aceitamos suas opiniões ou sugestões?
Respeitar a intimidade dos adolescentes e, ao mesmo tempo, se envolver em suas vidas é a chave para lidar com esse período, que exige tanto momentos de solidão quanto a presença de boas companhias.
Talvez o mais importante seja deixar claro para os adolescentes que, ao nos envolvermos em suas vidas, o que buscamos é cuidar deles. Não é sobre controle, mas sobre garantir o bem-estar deles. Queremos que eles saibam que confiamos e desejamos que, à sua maneira, encontrem seu caminho e vivam de forma plena.
É importante lembrar que a adolescência é um processo com começo e fim, e que muitas condutas dessa etapa desaparecem com o tempo e a maturidade. Quem já acompanhou adolescentes sabe que, quando se sentem preparados, eles retomam um contato mais fluido e espontâneo com aqueles com quem convivem e compartilham a vida.
Os momentos de intimidade, de busca por um espaço próprio, de se diferenciar de pais e irmãos, permitem que os adolescentes encontrem um caminho pessoal e único. Quando os pais e cuidadores favorecem o surgimento de uma pessoa autêntica, podem considerar sua tarefa cumprida.
As citações foram extraídas das páginas web da Unicef:
Os adolescentes
O que é a adolescência
Como falar com adolescentes
“Os filhos são um presente do senhor eles são uma verdadeira bênção” (Salmo 127.3).